Pergunto-me desde quando decidi entrar para este ciclo sem saída... Remexendo lá bem no fundo das minhas memórias, acho que posso dizer que fora naquele dia chuvoso e carregado de cores escuras, iluminado pelos relâmpagos que preferiam esconder o seu som e mostrar apenas as suas cores claras a esta paisagem negra.

É... eu disse que tudo iria ser igual - e isso implica que não haveria mudanças. Mas, talvez não deveria ser assim. Dei por mim a tornar-me numa boneca. Eu deixo que brinques comigo, que me tornes na tua princesa confidente e que me coloques na casinha mais pobre e pequena do teu conto, porque os teus castelos estão todos ocupados pelas outras que não se limitam a tornarem-se em bonecas apenas e exigem progresso. Mas por mim estava tudo bem, porque agora eu era tua princesa, e fazia parte da tua fantasia.
Mas as princesas dos outros castelos iam mudando: uma saía e o palácio ficava vazio. Então, tu arranjavas outra princesa para o ocupar, e eu permanecia sempre na minha casinha pobre, sabendo de tudo isto e ainda assim, te apoiando.

Como pude eu dizer que tudo seria igual e limitar-me a ser a tua boneca de contos de fadas? Pois eu continuo a acompanhar-te para onde quer que ás em presença, mas no pensamento, nem me avisto.

No entanto, é assim mesmo: e coração de boneca não muda. Muito embora eu já tenha os meus cabelos e pele velha de tanto uso desnecessário que me dás, eu vou continuar sempre contigo, até que eu me torne inútil para ti.