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"Quem não sabe arte, não na estima"
March 25, 2011Já dizia Luís Vaz de Camões que "quem não sabe arte, não na estima" (Canto V, estância 97), indignado pela falta de cultura e desprezo pela escrita e literatura já na sua altura, percebendo a quantidade de heróis portugueses incultos que, contrariamente aos heróis letrados de outros países, eram incapazes de ter "numa mão a pena, noutra a lança" (estânica 96). Ainda hoje, se Camões fosse vivo, com certeza teria a mesma ideia, embora sem heróis - o povo português é um povo que despreza a cultura
Comecemos pelo mais óbvio: a troca de prioridades entre os programas de lazer relacionados com assuntos da vida alheia e futilidades e os que nos oferecem alguma riqueza cultural. Falemos da televisão, que é uma das invenções mais bem sucedidas da história do ser humano da actualidade: toda a gente sabe o que são os "Ídolos", a "Secret Story", os "Morangos com Açucar" e outros programas com uma espantosa escala de audiências, sem qualquer tido de rendimento cultural. Agora perguntemos a alguém: "Viu ontem a reportagem sobre toxicodependência?", "assistiu o BBC Vida selvagem deste sábado?" ou "sabe qual era o tema do documentário de José Hermano Saraiva que passou na RTP2?". As respostas são um pouco óbvias. Agora imaginemos se, ao invés de fazermos estas perguntas, fizéssemos outras como: "em que ano morreu D. Afonso Henriques?", "qual é a personagem principal d'Os Maias?" ou ainda "qual foi o primeiro povo a habitar o espaço português?". Se inicialmente a probabilidade de responderem acertadamente era mínima, imaginemos agora.
O povo português, para além de procurar outros interesses em vez da cultura, não investe minimamente na literatura ou outra área considerada culta. A maioria dos Bestsellers vendidos são de literatura estrangeira: mais facilmente somos cativados por um livro com capa chamativa e contra-capa interessante, do que mais um daqueles livros nacionais que consideramos maçudos. Poucos já são os escritores de renome como Fernando Pessoa, José Saramago e José Henriques dos Santos.
Os portugueses interessam-se por um grande leque de assuntos relacionados com o Homem. Geralmente, não faz parte desse leque a "cultura geral". Por experiência própria, considero desnecessária a aquisição de competências extras que não sejam requeridas na minha vida profissional. Alguém uma vez disse "o saber não ocupa lugar" - e não, talvez não ocupe. Mas o português, prefere prevenir.
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